segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

…E OS INFERNOS FISCAIS?!

É ENTERNECEDOR ouvirmos os governos e a comissão europeia manifestarem as suas sinceras intenções de combater a fraude fiscal e a evasão de impostos ao mesmo tempo que se assiste ao crescimento da economia paralela com mecanismos cada vez mais sofisticados para escapar das garras afiadas das Fazendas Públicas.
A surpresa é tanto maior quanto em Bruxelas ninguém parece ter-se dado conta de que um dos países membros – precisamente aquele que actualmente ostenta a coroa da presidência rotativa -, Chipre, é um paraíso fiscal no seio da própria União Europeia onde existem nada mais nada menos do que 250 mil empresas financeiras numa população total de 900 mil habitantes.
Desde a entrada de Chipre para o clube europeu, em 2004, que o número de holdings duplicou, e nestas aterram, livres de impostos, os dividendos das empresas do resto da Europa e mais os oligarcas russos que ali lavam o seu dinheiro. Convém não esquecer que Chipre pediu o resgate para si próprio e para os seus bancos, beneficiando desses mesmos pedidos todos os inquietantes clientes ali refugiados.
Um estudo duma consultora financeira alemã diz que nestes momentos os bancos suíços contam com 2,3 biliões (milhões de milhões) de euros procedentes de clientes estrangeiros. 660 mil milhões são de países da Europa Ocidental, 345 mil milhões concretamente da Alemanha, Itália e Grã-Bretanha.
Entretanto, segundo esses mesmos consultores, 100 mil milhões vão escapar para outros paraísos fiscais mais seguros, receio partilhado pela União de Bancos Suíços (UBS). A pressão dos Estados Unidos e da Alemanha obriga os banqueiros helvéticos a exigirem aos novos depositantes que provem que o seu dinheiro é limpo. No caso dos alemães há que enviar para a República Federal uma cópia do ingresso da importância depositada na conta suíça.
Uma coisa é pôr dinheiro onde este paga impostos mais baixos (na Irlanda, por exemplo) ou em países com moedas fortes (tais como a Suíça). Outra coisa bem diferente é evadir e lavar dinheiro “sujo” (de tráficos de armas, drogas, seres humanos, prostituição, etc.) em países onde se nega a informação das proveniências.
Curioso que a actividade bancária esteja a seguir o curso que estamos a conhecer na Suíça e em Gibraltar (território da União Europeia) o dinheiro “negro” se refugie sem problemas sob o amparo do Reino Unido. Fala-se muito de paraísos fiscais, mas ninguém se refere aos infernos fiscais, onde confiscam economias duma vida e lucros que muito trabalho deram a ganhar, e onde muitas vezes se cobram impostos de mais de 50% daquilo que se conquistou com muito esforço honesto e actividade limpa. Pensem que se os russos se refugiam em Chipre para escaparem a impostos que oscilam entre os 9 e os 13%, o que farão aqueles outros que podem e conseguem fugir à sanha dos Gaspares e de todos os outros reis magos… até o papa já deixou de declarar o burro e a vaca do presépio…

In Sorumbático 31 Dez 12

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A VER VAMOS

SEMPRE ouvi dizer que vale mais um mau acordo do que uma boa querela. Compreende-se porquê, atendendo ao trabalho, preocupações e despesas que levar uma querela até ao fim pode custar, além da imponderabilidade das decisões judiciárias, por muito favoráveis que possam parecer. 
Além destes factos, há ainda o tempo necessário para se conseguir obter uma decisão. A demora em se conhecer o resultado é tão grande, que muitos advogados recomendam aos seus constituintes que obtenham outro tipo de acordo com a outra parte. Entre nós, processo que não demore uma década, com sentenças, recursos e decisões finais, não é processo! De tal maneira que, por esse motivo, Portugal é recorrentemente condenado pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. 
As sentenças ao fim de 10 anos são tão tardias que já não constituem, muitas vezes, justiça, violando a Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Ainda recentemente o Estado Português foi condenado por três vezes por essa razão. Para além de violar os direitos fundamentais das pessoas, também a economia se ressente desse facto, com situações demoradas que prejudicam empresas e afastam possíveis investidores estrangeiros. 
Há quem diga que se está à procura duma solução. A ver vamos… 
In Sorumbático, 28 Dez 12

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O MAESTRO

UM VELHO músico judeu que vive em Londres disse uma vez que o maestro judeu argentino Daniel Baremboim era o melhor pianista palestino de sempre. Obviamente que não era um elogio. Antes se tratava duma… sarcástica “judiaria”, a propósito da Alta Autoridade da Palestina ter concedido, honoris causa, a cidadania ao famoso maestro que tanto pugna pela reconciliação entre os dois povos.
Os ultraortodoxos de Israel e os fundamentalistas de Alá são muito parecidos e puseram-se de acordo considerando, uns e outros, Baremboim um inimigo e um impostor. Baremboim expôs-se para evitar a deflagração numa aventura quixotesca. Não somente na fronteira entre Israel e a Palestina, tão abalada pelos desígnios eleitorais de Netanyahu, mas também na linha de separação entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, cenário de um concerto especial que o maestro dirigiu.
O vigor com que Baremboim defende a convivência de Israel e da Palestina como estados independentes e reciprocamente reconhecidos converte-o num terrorista, bode expiatório de ambos os fanatismos. À pedagogia política da sua orquestra palestina-judaica soma-se o excelente resultado musical. A sua gravação das “Nove Sinfonias” de Beethoven, produzida no curso duma “tournée” internacional, rivaliza com as melhores edições disponíveis no mercado.
Baremboim é um excelente maestro e um cidadão comprometido. Combateu o muro de Berlim, conseguiu que a música de Wagner fosse tolerada em Israel e dirigiu o “Anel do Libelungo” na colina sagrada de Bayreuth. Pode dizer-se que é também um dos melhores pianistas espanhóis, depois do Governo de Zapatero lhe ter concedido passaporte ao cabo de tantos concertos oficiados na península...
O maestro tem uma casa perto de Marbella, próximo de Puerto Banus. É aí que se refugia, de cada vez que quer ouvir o silêncio e desfrutar do prazer do anonimato. Quem sabe onde ele mora é o afinador de pianos que costuma ser chamado lá a casa depois daquele primeiro telefonema em que o maestro disse:
“Sou Baremboim e precisava que viesse afinar-me o piano!”
“De que bar disse o senhor que fala?” perguntou-lhe o homem, numa primeira conversa entre os dois que o maestro, até hoje, converteu em irresistível anedota.
 In Sorumbático, 26 Dez.12

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

OS ARRANJINHOS DOS GENERAIS

A DEMISSÃO do general David Petraeus como director da CIA chamou a atenção para o puritanismo dum país onde o adultério é um delito em 23 estados da união e atinge proporções de extrema gravidade nas suas Forças Armadas. Neste momento, por esse mesmo motivo, altos comandos militares estão a ser investigados, incluindo o general John Allen, que esteve para ser nomeado comandante-chefe das forças da NATO no Afeganistão.
Tudo ficou a descoberto com uma investigação do FBI, que garante a segurança interna e que apanhou em falso o patrão da CIA, envolvido numa suspeita troca de emails com duas mulheres. Estes casos reabriram o debate sobre a estratégia de segurança há anos montada pela própria CIA e apoiada pelo próprio Obama desde que chegou à Casa Branca. 
A CIA é hoje um elemento essencial duma estratégia externa marcada pelas operações especiais e os ataques da sua frota de “drones” (aviões teledirigidos). A chegada a Langley de Petraeus, o general de quatro estrelas autor do manual de contra-rebelião que mudou a guerra do Iraque após os fracassos iniciais, marcou um ponto culminante na militarização da guerra das informações. Obama, que em breve vai ter de remodelar a política externa e a segurança, poderá aproveitar esta ocasião para reformular toda a política de inteligência de Washington. 
In Sorumbático – 24 Dez.2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

PARTIR PEDRA

MUITOS de nós, Portugueses, adoram partir pedra. Quer esta expressão dizer que adoram falar por falar, não resistem a discutir o sexo dos anjos, pôr grande calor e manifestar grande empenho em mandarem vir opiniões sobre assuntos de lana caprina, desde que não tenham de pensar e discutir o que verdadeiramente conta e realmente importa.
Uma coisa é fazer isto numa sala de bilhar, numa cervejaria, no café, outra coisa muito diferente é fazer isso mesmo na rádio e na televisão. A última vez que ouvi rádio, era isso mesmo que acontecia, mas foi há tanto tempo e não encontrando ninguém que ainda ouça rádio, sou levado a pensar que essa tendência se mantém, a fazer fé nas discussões, conversas e entrevistas a avençados que comparecem nas televisões para gastar tempos e ocupar espaços.
Diz o nosso povo que contra factos não há argumentos. Mas acabamos por distorcer, discutir, pôr em causa os factos e fazer vir ao de cima os argumentos da morrinhanha. Deve ser por respeitar esta tendência que o governo, para dizer qualquer coisa que ninguém percebe precisa de falar, pelo menos, três vezes. É como aquela de que não somos como os gregos, não podemos parecer-nos com os gregos, afinal já somos como os gregos! Fazemos com a compreensão o que os surdos fazem com o ouvido: vais à caça? Não, vou à caça! Ah! julgava que ias à caça!
O que parece importante é não falarmos naquilo que é importante para nós, ou pode ser decisivo para o país. Sabem onde e quando se nota mais isto? Quando se compra e lê jornais estrangeiros. Experimentem! Parece que desembarcámos em Marte e até gostamos das histórias que por lá se contam!
 In Sorumbático, 21 Dez 12

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

LÁ VOLTAM ELES, CANTANDO E RINDO…


O PRESIDENTE da Hungria e o seu partido acentuam cada vez mais a sua tendência nacionalista, procurando obter maiores apoios e mais seguidores na extrema-direita. É nesta linha de propósito que se podem entender as homenagens oficiais a figuras políticas do passado que apoiaram as “Flechas Cruzadas”, o movimento dos colaboradores húngaros dos nazis.
O mal-estar social face à ameaça da crise cristaliza em muitos países da Europa central e oriental, de modo a fazer ressurgir novos nacionalismos, populismos e até anti-semitismo, como sucede precisamente na Hungria. Em 2010, um partido da extrema-direita (Jobbik) conseguiu 17% dos votos e hoje exige uma lista dos judeus com responsabilidades no Governo, no Parlamento e nos meios de Comunicação da Hungria. No novo plano de ensino, diversos escritores anti-semitas figuram nos respectivos programas de leitura obrigatória.
Também na Polónia a recuperação de certos aspectos do passado e a insegurança crescente relativamente ao futuro, dinamizou um crescente movimento nacionalista polaco que cada vez mais frequentemente se manifesta nas ruas e, pela segunda vez consecutiva, celebra o Dia Nacional. Recentemente, a Polícia anunciou ter detido um indivíduo que intentara fazer explodir boa parte da classe política de Varsóvia reunida no parlamento, à maneira do norueguês Anders Brevik.
Igualmente na Roménia, onde por estes dias haverá eleições parlamentares, o populismo e o nacionalismo estão na ordem do dia, canalizados pelas estações de televisão privada. Os proprietários dos órgãos de comunicação social, oligarcas que enriqueceram à custa de negócios obscuros que se seguiram à morte de Ceausescu, procuram evitar, por todos os meios, que juízes independentes façam o seu trabalho, ao mesmo tempo que não têm hesitações em destroçar as reputações e pôr em dúvida a honorabilidade de qualquer adversário.
Estes sentimentos antidemocráticos, xenófobos e racistas manifestam-se igualmente na Alemanha. Segundo um recente estudo da Fundação social-democrata Friedrich Ebert, um em cada seis alemães que vivem no território da antiga RDA proclama-se de extrema-direita, e na antiga República Federal, 1 em cada 14. Em toda a Alemanha, um em cada três pensa que os judeus se aproveitam das recordações do holocausto e 60% de todos os alemães têm uma opinião negativa acerca do Islão.
As ideias da velha Europa, afinal de contas, estão bem mais perto do que se julga, enquanto estes sentimentos animam mais corações do que parece… 
 In Sorumbático, 19 Dez 12

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O PERIGO DE DAR NOTÍCIAS


UM GRUPO de importantes jornalistas pede hoje que Edward Kennedy, o correspondente da Associated Press que anunciou o fim da II Guerra Mundial, receba um prémio Pulitzer póstumo.
Para além de premiar com justiça, esta pretensão quer ver cumprida uma reparação para quem foi um excelente jornalista toda a sua vida. Por vezes, cumprir as suas obrigações, ser-se honesto e comprometido e ter talento não basta para se conseguir o reconhecimento profissional, pelo contrário até pode converter-se na causa capaz de destruir uma carreira. Foi o caso de Edward Kennedy e digo-o eu, que sei do que falo.
Edward Kennedy era correspondente de guerra da Associated Press (AP) e teve a infelicidade de dar uma das mais importantes e melhores notícias da primeira metade do século XX: o fim da II Guerra Mundial! Foi aí que começou a queda em desgraça de Kennedy, ao cobrir em 7 de Maio de 1945 a rendição incondicional da Alemanha nazi na cidade francesa de Reims.
Foi então que os países aliados decretaram um embargo de 36 horas sobre esta notícia, a fim de ganharem o tempo necessário a um acordo dos anglo-americanos com os soviéticos, entre os quais havia surgido um certo desentendimento antes desta notícia se tornar oficial. No entanto, ao longo desse mesmo dia algumas rádios alemãs deram a notícia, possivelmente para alertar alguns comandos militares e para avisar determinadas figuras do regime que quisessem abandonar o país.
Ao verificar que os alemães não estavam a respeitar o embargo, Ed Kennedy telefonou para a sede da AP em Londres, ditando um artigo que, em primeira mão, anunciava ao mundo o fim da segunda guerra mundial. A notícia originou, naturalmente, um sem fim de edições especiais nos principais jornais de todo o mundo. Este facto terá causado um profundo mal-estar no governo dos Estados Unidos, que considerava que o repórter tinha desafiado a censura militar. Foi esse facto que motivou que, meses mais tarde, a AP prescindisse dos serviços de Edward Kennedy, a quem viria a ser retirada a sua carteira profissional.
A quase totalidade dos jornalistas e os grandes meios de comunicação social viraram as costas a Kennedy, que daí em diante apenas pôde trabalhar em pequenos jornais de província até morrer em 1963, atropelado por um carro.
67 anos depois de Kennedy ter anunciado ao mundo a maior “cacha” na história da AP (que eu servi durante 7 anos em Londres, Nova York e São Paulo, precisamente a partir de 1963), a  agência pediu publicamente desculpa a Edward Kennedy e reconheceu que o seu despedimento fora um erro muito grave. Agora, mais de meia centena de grandes jornalistas exige o Pulitzer para Kennedy e que o seu nome ocupe o lugar que lhe compete na história do jornalismo.
 In Sorumbático, 17 Dez 12

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O REGRESSO DE WEIMAR

ALGO está a regressar à Europa, desta vez pelo Sul. É por aqui que hoje mais se sente o regresso do fanatismo antidemocrático como resposta à crescente pobreza, à insegurança e ao desespero dos cidadãos.
Estamos de volta a sociedades onde reina a impunidade, onde se afunda a economia, onde se rouba e defrauda e onde nenhum responsável pelas ilegalidades dá a cara perante a justiça ou entra na cela duma prisão. Os cidadãos sentem-se esquecidos e desprezados por uma classe política amestrada pelos poderes económicos aos quais ninguém deu um voto. Partidos tradicionais que coleccionam derrotas eleitorais sem que agora, nem no passado, tenham preparado respostas adequadas à crise cuja chegada apressaram. Vemos assim ressurgirem partidos populistas, em especial conotados com a extrema-direita, que utilizam a força dos argumentos para atrair e canalizar a raiva e a frustração de cada vez mais pessoas.
Um professor da Faculdade de Direito de Atenas escrevia há um par de meses que a Grécia lembra excessivamente a República de Weimar. Os gregos sentem-se castigados pelos planos de ajustamento de Bruxelas como os alemães se sentiam naquele tempo, massacrados pelas exigências das reparações financeiras da I Guerra Mundial que o tratado de Versalhes lhes impunha. E daquela opressão económica nasceram as brigadas de SA, tropas de assalto formadas por jovens sem esperança e por soldados desmobilizados e sem emprego.
Também na Grécia surgiu agora o “Amanhecer Dourado”, que se dedica a espancar e a aterrorizar imigrantes esfomeados, anarquistas, adversários políticos e figuras do mundo da cultura. O “Amanhecer Dourado” foi a eleições e teve 7% dos votos das eleições de Junho. Hoje, graças aos serviços sociais que montou para ajudar os mais pobres, obteriam facilmente 15% da votação.
Como faziam os nazis nos seus primeiros tempos no parlamento alemão, também os deputados do “Amanhecer Dourado” impedem qualquer discussão séria e ameaçam sem tibiezas os seus adversários políticos. Há poucos dias, uma sede deste partido de direita foi atacado com explosivos e vive-se o receio das consequências deste acto. As confrontações nas ruas começam a ganhar expressão e muita gente ainda não esqueceu a pavorosa guerra civil que a Grécia viveu no final da II Guerra Mundial. As sementes do ódio parecem germinar com mais vigor quando se misturam com a fome e a decadência…
 In Sorumbático, 14 Dez.2012

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

OS ARRANJINHOS DOS GENERAIS

A DEMISSÃO do general David Petraeus como director da CIA chamou a atenção para o puritanismo dum país onde o adultério é um delito em 23 estados da união e atinge proporções de extrema gravidade nas suas Forças Armadas. Neste momento, por esse mesmo motivo, altos comandos militares estão a ser investigados, incluindo o general John Allen, que esteve para ser nomeado comandante-chefe das forças da NATO no Afeganistão.
Tudo ficou a descoberto com uma investigação do FBI, que garante a segurança interna e que apanhou em falso o patrão da CIA, envolvido numa suspeita troca de emails com duas mulheres. Estes casos reabriram o debate sobre a estratégia de segurança há anos montada pela própria CIA e apoiada pelo próprio Obama desde que chegou à Casa Branca. 
A CIA é hoje um elemento essencial duma estratégia externa marcada pelas operações especiais e os ataques da sua frota de “drones”(aviões teledirigidos).A chegada a Langley de Petraeus, o general de quatro estrelas autor do manual de contra-rebelião que mudou a guerra do Iraque após os fracassos iniciais, marcou um ponto culminante na militarização da guerra das informações. Obama, que em breve vai ter de remodelar a política externa e a segurança, poderá aproveitar esta ocasião para reformular toda a política de inteligência de Washington.
in Sorumbático,12 Dez.2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

C R O N IC A N D O



A CRÓNICA deveria ter um propósito nobre: falar do que mais ninguém fala e dar voz a quem não a tem. A comunicação social cala as coisas, silencia as pessoas e apaga a memória. A crónica deveria ser para que nada disso acontecesse.
Os bons cronistas devem ser subjectivos, emocionais, pretensiosos, rebarbativos e caprichosos. Os cronistas eram uma praga módica, mas agora são uma epidemia, com o mundo cheio de senhores e senhoras a quem chamam cronistas. Publicam-se antologias de crónicas, abundam cursos de escrita criativa dirigidos à crónica, aparecem teses a estudar a crónica, há workshops e cursilhos de crónicas. Dezenas de possibilidades e de perigos.

Há anos, os cronistas receavam a internet. Hoje, trocam dicas sobre como aproveitarem as redes sociais. É interessante conhecer verdadeiros cronistas um pouco por todo o mundo e descobrir que já  nenhum deles fala dos grandes media, jornais ou revistas, deste ou daquele país e em que moeda pagam, todos fugimos dos meios tradicionais para despontarmos em revistas amigas  ou surgirmos em blogues, essa nova folha de papel virtual onde deitamos os nossos textos.

A mim sempre me interessou que a crónica fosse um género marginal, uma opção, uma escolha à margem da principal corrente, uma RTP2 em vez duma RTP1,aquela que só vê quem quer, quando nada mais valia a pena ver.

 Por estas e por outras é que a crónica deve ser subjectiva, pretensiosa, fura-vidas, marginal, capaz de meter em crise as linguagens tradicionais, os estilos enganosos, os senhores e senhoras cronistas e este poder que os pariu.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

NOTAS, MOEDAS E CÂMBIOS

TODOS devem ter reparado que é raro conseguirmos que as ATM (Multibanco), ou mesmo num balcão, nos dêem uma nota maior de 20 euros. Para quem é constantemente acusado de viver acima das suas possibilidades parece-me uma grave contradição. Mas notas grandes de euro é coisa raramente vista. Recordo-me da comoção, entre as caixas dum supermercado, onde um casal angolano pagou o seu carrinho de compras com uma nota de 500 euros. Até meteu o gerente e, pelo menos, duas filas à espera! Não escondo a satisfação de ver uma nota de 50 e a dificuldade com que dela me separo…
Com esta história de virmos a ser escorraçados do euro, juntamente com a Grécia, ponho-me a imaginar o escudo igual ao dracma e a Espanha outra vez com a peseta a valer metade da nossa moeda e nós sem notas, ou sem moedas. E ponho-me a pensar no Equador, que não tem moeda própria e cujo sistema financeiro prospera!
No Equador todas as transacções são feitas em dólares americanos. As únicas notas que lá existem são as da moeda norte-americana. Curiosamente, as contas fazem-se com poucos trocos, porque não há moedas! Então o governo equatoriano imprimiu moedas para facilitar os trocos dos que vivem dos tostões. Há moedas de 50, 25, 10, 5 e 1 cêntimos. Que não são iguais a coisa nenhuma, com umas figurinhas mal identificadas. Digamos que são moedas duma moeda que não existe, fracções do dólar americano que não podem circular nos Estados Unidos porque são equatorianas.
Com este Governo que nós temos, não me espantaria se o visse a bater palmas por sairmos do euro e ficarmos privados dum símbolo nacional e sem um instrumento de poder que é a moeda própria. Os nossos ministros deveriam adorar passarem a receber em marcos…
In Sorumbático - 7 Dez 12

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

ERAM, UMA VEZ, JORNAIS, RÁDIOS E TELEVISÕES…


OS VELHOS modos de informar e comentar já não são válidos. As ligações dos jornalistas aos políticos já não garantem nem o presente nem o futuro. Os tradicionais pactos do poder com os cidadãos foram rasgados e os novos políticos começam a só confiar nas redes sociais e nos meios digitais.
É fácil enterrarmo-nos nas torrentes de informação, mas compreender é mais difícil. Do velho jornalismo há uns que tentam sobreviver sem saber como, há outros que ficaram parados e aturdidos, sem entenderem os acontecimentos, e querendo acreditar que se não publicaram a notícia da sua própria crise, é porque ela não existe.
Sem influência e com parcos rendimentos, os gestores dos meios da comunicação social dizimam redacções e pedem campanhas de publicidade institucional e contêm-se sem destapar o jornalismo de indignação.
Uma legião de jovens jornalistas vagueia à procura de colaborações esporádicas, pois de postos de trabalho fixos é melhor nem falarmos. Os que ainda são pagos com regularidade vêem os seus salários desvalorizar-se e, em alguns casos, até desaparecer… lêem bem, desaparecer! Em Itália e Espanha, associações sindicais de jornalistas chegaram ao extremo de lançarem uma campanha subordinada ao tema “de borla não trabalhamos”!
Por outro lado, um jornalista que só encontra trabalho gratuito pode ter mais facilidades para se dedicar ao jornalismo que mais lhe interesse, do que acontecia até aqui. Os poucos custos dum meio digital deixam ao alcance de qualquer a possibilidade de empreender novos projectos. O aparecimento de novos meios em formato digital permite ter essa esperança. A de se fazer jornalismo por vocação, como sucedia dantes aos velhos jornalistas e editores. Para ter influência, para que um novo negócio sustentável ressurja, mas principalmente para prestar um serviço à sociedade. Esse jornalismo de vocação acabou por morrer ainda no tempo das vacas gordas. Colou-se tanto ao poder que acabou por arder com ele. E isso foi tão evidente para tanta gente que hoje tem de se explicar, tintin por tintin, por que razão o jornalismo faz muita falta à democracia.
 -
In Sorumbático, 4 Dez 12