segunda-feira, 4 de maio de 2015

QUANDO OS POLÍTICOS TINHAM MEDO DA TV PURA

Por Joaquim Letria
QUEM TENHA idade para isso recordar-se-á, certamente, da novela da Globo, extraída da obra de Jorge Amado, “Gabriela Cravo e Canela” fazer parar este País.
Até a Assembleia da República, que na época ainda arrastava a qualidade das bancadas da Constituinte, com deputados de grande gabarito e uma mão cheia de excelentes tribunos capazes de conferirem um interessante tempero a um período político fascinante – tudo incomparável com a  deplorável situação actual –parava, ou modificava os horários das suas  sessões para que os deputados pudessem ver a novela e o público não perdesse nem uma coisa nem outra.
Lembrei-me desta história saudosa – da ficção audiovisual e da política nacional – porque a BBC revelou agora no seu site uma história interessante que deve ter valido a vitória dos Trabalhistas de Harold Wilson em 1964,ano em que eu já frequentava Londres com afinco mas ainda lá não morava.
Conta então a BBC no seu website que Harold Wilson se apercebeu de que a BBC se preparava para transmitir, na noite das eleições de 1964, um episódio da “sitcom” “Steptoe and Son”, uma comédia que punha diante dos televisores 26 milhões de britânicos de cada vez que ia para o ar. O chefe dos trabalhistas receou então que o seu eleitorado ficasse em casa para ver a série em vez de se dar ao trabalho de ir às urnas fazer valer o seu voto.
Numa iniciativa até então nunca vista, Wilson foi a casa de “Sir Hugh Greene,o director-geral da BBC, para lhe pedir que não transmitisse aquele episódio naquela noite, mudando o dia e o horário. O então dirigente da BBC interrogou-se, mais tarde, numa entrevista só então conhecida, se a sua aceitação deste pedido não teria custado a vitória dos socialistas e a derrota dos conservadores. Em 1982, Sir Hugh contou este episódio nessa mencionada entrevista, tal como ainda hoje consta dos arquivos da corporação.
Recorda Sir Hugh Greene:
“Wilson fez-se convidado a vir a minha casa para tomar uma bebida. Vinha muito irritado por a BBC ter programado umas repetições de programas e um episódio daquela série coincidir com o dia das eleições. Sugeriu então que isso se destinava a manter os eleitores do Labour afastados das urnas. E chegou a dizer tratar-se duma conspiração contra ele. Respondi-lhe que estava certo de que ele sabia que isso era um disparate e que o que dizia não fazia sentido e claramente disse-lhe que retirava o que dissera e pedia desculpa pelas suas afirmações, ou não valia a pena conversarmos sobre o que quer que fosse. Bebíamos um copo e ficávamos por ali”.
“Wilson pediu desculpa, retirou o que disse e discutimos então o problema. No dia seguinte discuti o assunto com a Direcção da BBC e chegámos facilmente à solução de transmitir o “Steptoe and Son” depois das 21 horas, quando as urnas já estavam encerradas, depois da votação.
Telefonei a Wilson dando-lhe a conhecer a decisão. Disse-me ficar muito agradecido e que essa decisão lhe valeria 20 lugares no Parlamento. Ele viria a ganhar por uma diferença de quatro votos e fiquei a pensar que a minha decisão tivera efeito na história política britânica. Os trabalhistas acabaram assim com 13 anos de Governo conservador através da mais pequena maioria desde 1847”
Esta entrevista de Sir Hugh Greene encontra-se no site da BBC e é um projecto conjunto com a Universidade de Sussex que envolve a digitalização de centenas de horas de entrevistas com políticos britânicos e dirigentes da BBC. Wilson também deu uma entrevista para este projecto, reconhecendo que a BBC havia sido “absolutamente prestável ao Partido Trabalhista. E não deixou de fazer graça, contando que quando Greene lhe perguntara o que queria que transmitisse, lhe respondera:” Uma tragédia grega, de preferência no original”

quarta-feira, 15 de abril de 2015

REFLEXÃO À MARGEM DO INQUÉRITO

"Tenho andado preocupado com esta situação do BES/GES e as acusações dos lesados de que desconheciam o que estavam a comprar. 
Ora bem, estive a ouvir com toda a atenção Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Costa (do BP), CMVM, etc, e, sinceramente, fiquei esclarecido.
Fiquei a saber que houve uma takeover sobre a PT, o que provocou um downsizing na empresa e impediu o advanced freight.
Sendo assim, o asset allocation baseado num appraisal report, que é o allotment indicado, provocou um average price muito baixo, reduzindo os back to back ao mínimo.
Ora, o bid price provocou um dumping e uma floating rate incomportável com o funding previsto pelos supervisores.
Deixou, pois de existir uma verdadeira hedge, o que levou ao levantamento de hard cash em grande quantidade.
Se considerarmos que o ICVM, ao fim do período estava a deteriorar-se e os pay-out continuavam a baixar, a única solução seria o payable to the bearer de eventuais incomes da empresa.
Voltando um pouco atrás, o pool entre Bes e Ges, fez diminuir drasticamente o portfólio dos clientes, levando inevitavelmente a um revolving credit que abrangeu a maioria dos shareholders de ambas as empresas. 
Como é evidente o pricecut da Rio Forte foi inevitável e a takeover sobre a mesma também. O gross profit baixou significativamente, aumentando o grade period e o bank rate.
Só para terminar e em jeito de conclusão creio que estamos perante uma grande quantidade de filhos da puting, que utilizando a corrupting ao nível central e local, foram delapidanding os recursos do país e continuam em casa riding a situação, deslocando-se de vez em quanding à Assembleia, e fazer de parving o poving em geral. 
Tenho dito.”
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Texto sem autor mas autorizado

segunda-feira, 24 de março de 2014

Entrevista a Miguel Cadilhe para a «Visão» (20 Mar 14)


Para receber o ficheiro da entrevista em formato PDF (3,72 Mega), enviar um e-mail para medina.ribeiro@gmail.com escrevendo, em assunto, «Cadilhe»
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“SE A JUSTIÇA FOSSE FORTE E INDEPENDENTE,AS COISAS NÃO FICARIAM ASSIM”

Há um quarto de século, Miguel Cadilhe, ministro das Finanças de Portugal, autor de cinco orçamentos de Estado, deu-me a oportunidade de fazer uma entrevista que durou até hoje,25 anos mais tarde.
20 minutos antes do “Jornal das 9” ser emitido, o ministro mandou avisar-me que não apareceria. Decidi manter as perguntas, e interroga-lo “in absentia”. O ministro, logo que pudesse, responderia. Esta semana, a VISÃO desafiou-nos para um reencontro. No qual nasceu a entrevista que se segue.
Continua a pensar que Portugal desperdiçou a presença da troika para proceder a uma reforma estrutural do Estado?

Penso que a troika poderia, e deveria, ter levado Portugal a fazer a grande reforma estrutural do Estado, mas os políticos portugueses não foram por aí. Não usaram a grande oportunidade de o país estar, todo ele, recetivo a fazer essa mudança. A melhor prova de que o Estado tem de ser ‘reconceituado’, e tem de ser objeto de uma profunda reforma, é o nível insustentável da dívida pública.

É uma oportunidade que  se perde. Havia muita gente que acreditou que «agora isto ia ser a sério».

As medidas que estão tomadas são intercalares, temporárias. Nós precisamos de medidas estruturais, daquelas que têm efeito permanente e são tomadas para ficarem.

Considera que Portugal, no estado em que se encontra, estaria recetivo a mudanças maiores?

Portugal precisa de mudanças estruturais, mudanças que vão à raiz dos problemas que temos. Na área do Estado ou da Administração Pública o nosso problema é despesa pública a mais. Para a pagar precisamos de mais impostos ou de mais dívida. Mas quer os impostos, quer a dívida, já estão em níveis excessivos. Em termos de esforço fiscal, somos o segundo país mais exigente de toda a zona euro.

O senhor disse que Portugal se ficava pelos preliminares… 

Isso foi a propósito do dito guião da reforma do Estado, que veio tarde e mal. Quando nós estamos num ato importante da vida, dizemos que os preliminares são recomendáveis, mas, aqui, os preliminares deviam ter sido em 2011. A seguir, deveria ter aparecido o ato essencial. Este guião foi determinado pela motivação eleitoral.

Ou seja, mesmo os preliminares são desajeitados…

São, são. [risos] Os preliminares, o tal guião, parece que foi preparado por quem não tem experiência ou, então, quis usar de astúcia para encher o tempo pré-eleitoral. Mas o país rapidamente concluiu que o guião não era aquilo que deveria ser feito. Neste momento, nós devíamos ter a reforma do Estado, em grande parte, feita – a reforma estrutural, aquela mudança que é para valer por muito tempo. E não temos.

Pensa que essa reforma ainda será feita mais para a frente, ou não haverá condições para irmos por aí?

Não sei quem a vai fazer, mas tem que ser feita. Numa conferência, em Serralves, comparei o Grande Reformador em Portugal àquela árvore do romance A Um Deus Desconhecido, do John Steinbeck. Por muito que pensemos que, desta vez, o reformador vai estar aí, ele acaba por não aparecer ou por sair antes do tempo. Durante estes anos troikianos acabámos por não ter o Grande Reformador e o país está muito precisado disso. Admito que muito tarde, com muito atraso possa aparecer a grande reforma do Estado, depois de a troika sair, mas já não neste mandato. É tarde demais. Uma grande reforma do Estado implica sempre algumas medidas impopulares e não estou a ver os partidos políticos a fazê-la em vésperas de eleições.

Por causa disso pagamos mais…

Pagamos mais e as medidas temporárias incidem mais sobre as pessoas que estão mais à mão, digamos. São muitas, mas têm pouco poder reivindicativo e pouca influência junto do poder, mas claro que contam mais para a massa da despesa pública. Por enquanto, temos os tais sacrifícios temporários, mas quando vier a reforma estrutural do Estado teremos sacrifícios definitivos.

Tem dito que há iniquidade nestes sacrifícios.

A equidade está ferida porque os sacrifícios estão mal distribuídos. É muito difícil lidar com o ajuste da distribuição de sacrifícios porque a grande massa da despesa pública está nas remunerações da função pública, no Estado Social, nos juros da dívida pública – nos juros não podemos mexer. Só se incumpríssemos e disséssemos «não pagamos», mas ninguém do Governo pensa assim. E eu também não penso assim. A nossa dívida pública deve ser cumprida, eu costumo usar a expressão «honrar a dívida pública», mas também digo que é preciso fazer a renegociação honrada da dívida pública. Dizemos que pagamos o capital, mas os juros têm de ser mais baixos e o tempo tem de ser mais longo. A renegociação honrada é uma proposta que já faço há uns tempos.

O que, aliás, acontece, sobretudo da parte de quem tem a preocupação de pagar! Quem não se preocupa  com essas coisas, geralmente, não paga. É o “logo se vê”…

Tal e qual. E o banqueiro está habituado a ver entrar no banco uma pessoa, seja chefe de uma empresa ou de família, dizendo «estou a passar uma aflição, preciso de tempo. Mas quero honrar a minha dívida». É isso que eu proponho que Portugal faça. Admito que isso venha a ser feito, se é que não está a ser realizado nos bastidores. Isto deve ser executado no recato das instituições. O homem que vai falar com o banqueiro também não vai a bradar que precisa de mais tempo para pagar a dívida. Parece que o Governo português tem conseguido algumas melhorias de juro e algumas melhorias de prazo, designadamente junto das instituições europeias, mas penso é que isso ainda é muito pouco. Tem que ser bastante mais.

Em 2011, o Dr. chegou a defender uma taxa única de 4% sobre a riqueza. Na sua opinião, esse imposto visaria dois objetivos essenciais: tornar mais justa a distribuição dos sacrifícios e tributar quem mais tem, isentando aqueles que têm menos posses. Com a carga fiscal atual, este imposto ainda seria comportável?

É um imposto bendito porque melhora a distribuição dos sacrifícios, mas é um imposto maldito porque piora a confiança, que já não está muito bem. Propus que essa tributação fosse sobre a parte superior da pirâmide dos titulares da riqueza, isentando três quartos ou dois terços das famílias portuguesas.

É claro que esse imposto tem algumas dificuldades operacionais, reconheço que sim, mas nada de inultrapassável. O ponto mais delicado é, de facto, a questão das famílias ricas. Do ponto de vista ideológico não tenho nada que me leve a incomodar essas famílias, eu próprio reconheço que seria tributado. Não é por preconceito ou enviesamento político ou ideológico, é porque acho que, em Portugal, os sacrifícios pesam muito sobre funcionários públicos, pensionistas, desempregados. As pessoas precisavam de ver um sinal de que também são chamados a contribuir aqueles que estão no topo da pirâmide de riqueza. Dir-se-á que, pelo IRS, as pessoas de maior rendimento estão a contribuir, mas o rendimento é uma coisa e o património é outra. Também sugeria que a receita desse imposto, que seria único, não se repetiria, seria exclusivamente para a amortização de dívida pública.

Quando foi ministro foi alvo de uma campanha como pouca gente sofreu em Portugal. Em termos comparativos, não estranhou, agora, a delicadeza que houve com o seu colega Vítor Gaspar? Foi muito mais bem tratado do que o senhor, no seu tempo.

O Vítor Gaspar tinha o guarda-chuva da troika. Apesar de tudo, as pessoas achavam que ele tinha de fazer aquilo que estava no memorando com a troika. No meu caso, eu não tinha troika nenhuma a proteger-me. Além disso, eu meti-me em várias reformas estruturais ao mesmo tempo. Na altura, até dizia que quem semeia reformas colhe tempestades.

Ainda teria sido possível ir mais longe nas suas reformas?

Admito que não. Aliás, eu já tinha alguns colegas do Governo contra – contra é uma forma de dizer – a intensidade reformista que o ministro das Finanças estava a introduzir nas políticas do Governo. Muito dificilmente eu poderia ter continuado naquele ritmo de reformas. Alguns dos ataques que me fizeram foram verdadeiramente indecentes. Outros foram poderosos, mas subterrâneos.

O senhor  disse que, se Vítor Gaspar alguma vez saísse, seria substituído por um Gaspar II. A ministra que lá está é o Gaspar número 2? Ou tanto fazia ser ela como qualquer outra pessoa porque a política seria sempre a mesma?

Eu queria dizer que a linha de política, do ponto de vista mais substancial, não poderia ter grandes alterações. Vítor Gaspar foi substituído pela senhora ministra e acho que posso dizer que, do ponto de vista da qualidade, determinação e de consistência, temos um Gaspar II.

Isso é um elogio?

É um elogio, sim. Discordo dela em alguns assuntos, tal como discordei de Vítor Gaspar, mas acho que a ministra conseguiu substituir, rapidamente, a credibilidade de Vítor Gaspar pela credibilidade dela. São dois tipos diferentes de presença e, portanto, de crédito. Mas acho que está bem no lugar em que está.

Recordo-me da consideração que o Dr. tinha pelo seu secretário de Estado do Tesouro, o Dr. Oliveira e Costa. Em 2009, teve que chefiar as equipas que deslindaram todo aquele imbróglio da SLN e do BPN. Imagino que tenha sido doloroso para si.

Foi doloroso e surpreendente, no pior sentido do termo. Esperava encontrar muitas coisas mal, mas nunca daquela dimensão e com aquela extensão e profundidade. Envolveu várias pessoas que foram, para mim, razão de mágoa, digamos. Além disso, implicou um esforço muito grande por parte da minha equipa para enfrentar os problemas e, em pouco tempo, dar-lhes solução. Por mais conhecidas que fossem as pessoas, por mais chegadas, ou mesmo amigas que fossem, nós tínhamos um dever que era superior a tudo, as coisas como estavam tinham de ser levadas à justiça. Por princípio, por razões de ética, e por razões de ordem legal, também. O administrador de uma empresa não pode calar as coisas que nós encontrámos. Tem o dever, e a obrigação legal, de comunicar a quem de direito, como fizemos. Foram os piores 4 meses da minha vida do ponto de vista profissional. Não tem comparação nenhuma. Não comparo com aqueles anos em que eu, como ministro das finanças, fui atacado, era outra coisa. Era o desafio profissional de conseguir resolver os problemas e de ter de chamar à pedra várias pessoas. Ao mesmo tempo, tinha de lidar com a instituição Banco de Portugal que nós esperávamos que nos ajudasse. O BdP dizia que nós éramos uma equipa em quem confiavam, nós éramos parte da solução e não do problema mas, às tantas, pôs-nos como parte do problema porque não nos ajudou. A nacionalização veio, contrariando a nossa opinião e a nossa proposta. Foi um erro. Nós dissemos isso na altura e os anos que se seguiram mostraram que a nacionalização foi um pesadíssimo erro. A nacionalização do BPN não precisava de ter acontecido. Nós tínhamos uma proposta para salvar o banco, deixavam-nos tentar e, se não conseguíssemos, depois, então, davam a solução radical ao banco, que podia ser a nacionalização e a integração na CGD, por exemplo. A ajuda que dessem à nossa equipa para tentarmos aplicar o nosso plano não se perderia, já faria parte da solução que mais tarde tivessem de adotar, se nós não fossemos bem-sucedidos. Atenção, nós dávamos o nosso nome, nós dávamos a cara pela nossa solução. Eu acho que, em 2008, houve um erro de avaliação, quer da parte do ministro das Finanças, quer da parte do Governador do BdP. O Banco de Portugal, como depois se comprovou, tinha uma responsabilidade muito grande nas falhas de supervisão ao longo de anos, que permitiram que o BPN chegasse onde chegou.

Há quase uma omertà, um dever de silêncio, acerca dos culpados, em Portugal. Eu recordo-me de ler palavras suas em que apontava Sócrates, Teixeira dos Santos e Constâncio como alguns dos principais responsáveis. Lembro-me que falava na Expo 98, nos estádios de futebol, nos submarinos… No entanto, põem-se todos no mesmo saco e parece que todos tiveram a mesma responsabilidade. Concorda com esta posição de que ninguém teve culpa?

Não é muito humanamente correto - politicamente correto não é de certeza - estarmos a proclamar coisas deste género. Quando Portugal chega ao ponto a que chegou, em 2011, e entra a troika, eu pergunto se não há pessoas para serem chamadas à responsabilidade, não é só à responsabilidade política, mas de foro judicial. Pergunto se a PGR, com toda a sua independência, não deveria iniciar uns processos de chamada à responsabilidade de alguns políticos. Pelo menos para que o país dissesse «não, a culpa não morre solteira». A melhor forma de não responsabilizar ninguém é chamar todos à pedra. Eu acho que o sistema de justiça, mais uma vez, tem sido relativamente fraco. Se fosse forte, e verdadeiramente independente, as coisas não ficariam assim, sem responsabilização. O caso dos submarinos é um exemplo de manual.

Condena-se na Alemanha…

Mas cá não há corrupção passiva. No meu tempo, quando eu era ministro das finanças, fui atacado por tanta coisa, se tivessem comprado os submarinos o ministro das finanças teria de dizer que sim, o ministério da defesa teria de ser o autor da proposta mas, às tantas, eu próprio também teria apanhado com um submarino na cabeça, no meio daqueles ataques todos.

Essa clarificação faz falta para as pessoas acreditarem.

As instituições da República, que falharam ao longo de anos, na tal vigilância das finanças públicas, também deviam olhar para si próprias e retirar daí ilações e lições para o futuro. Não sei se alguns quadros legais dessas instituições precisam de ser revistos, reforçados. Não sei se é, também, uma questão de dotação de meios, recursos humanos e outros, ou de orçamento… Mas que elas falharam, falharam. Se estivessem muito atentas, e se tivessem chamado a atenção, a República não teria chegado ao que chegou.





 ***

A ENTREVISTA SEM ENTREVISTADO EM DIRECTO NA TV


Não apareceu naquele dia porque, imagino, tinha coisas mais importantes para fazer do que ir ao telejornal do segundo canal da RTP. A mim, permitiu-me uma graça que lhe agradeço e que durou até hoje…

Uma graça que fez com muita classe, com muita categoria. Na altura eu dizia que tinha sido a melhor entrevista que me fizeram.

Teve a amabilidade de dizer isso, mas eu só tive o trabalho de deixar as questões. Infelizmente, não me lembro delas, nem encontrei nenhum registo disso.

Que pena…

Eu fiquei contente por outro motivo. É que eu fiz isso a um ministro, que não era um ministro qualquer, era o ministro das finanças, e ninguém me despediu! Está a ver como ninguém tem responsabilidades!?

[risos] A falta foi minha, eu deveria ter ido. O seu gesto foi de grande inteligência e de muita classe. A cadeira estava vazia e o jornalista começa a fazer as perguntas. Eu recordo-me de ter pensado, e de ter comentado com várias pessoas, que tinha sido uma categoria de entrevista que o Joaquim Letria me tinha feito. É um gesto raro, sabe? Podia ter aproveitado para amesquinhar a pessoa que lhe faltou no último momento, dizer-lhe uns adjetivos que eram apropriados, podiam ser mais ou menos justos, mas eram apropriados, mas não. Esteve muito acima disso. Com um sorriso que lhe é muito próprio, pode estar a entalar o entrevistado mas tem sempre um sorriso, ainda hoje pôs esse sorriso várias vezes…

É o mesmo! [risos]

Olhava para aquela cadeira vazia, que não deveria estar vazia, e sentia-me responsável por isso, claro que sim. Mas sem baixar o nível conseguiu dar-me uma lição, a mim e a outros políticos.

Os políticos aprendem pouco. Recordo-me que as minhas palavras finais foram «deixo-lhe aqui as perguntas, quando o Sr. Ministro entender que pode e tem tempo para responder terá a oportunidade de o fazer». Não esperava que me desse o prazer de um reencontro como este, depois de tantos anos.

São 40 anos?

Eu creio que foi em 87 ou 88… O motivo da entrevista era a apresentação de um Orçamento de Estado.

Aí uns 25 anos! Caramba, quarenta também não podia ser! Há 40 foi o 25 de Abril! [risos]

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

CUIDADO, QUE NEM OS VÍGAROS

HOUVE um secretário de Estado que anunciou ao País que, em grande maioria, tinham surgido investidores estrangeiros a comprarem acções dos CTT, na privatização dos nossos Correios. Coitado do homem, que se enganou, com certeza, ou foi levado ao engano, pois não é de crer que seja mentiroso a tal ponto. Soube-se que, no fim de contas, mais de 90 por cento das acções dos CTT foram compradas naquele mesmo dia por bancos portugueses e por ordem do Governo, directriz ordenada através das Finanças.
É por estas e por outras que as agências de notação, mais os nossos credores e a banca internacional, vêem Portugal com desconfiança, e franzem o sobrolho quando ouvem falar do nosso país. Trazer polacos de origem colombiana, naturalizados bolivianos com documentos e negócios no Brasil a ver se nos compram as nossas melhores companhias dá tão mau aspecto que também não chega ser emigrante lusitano, a dar ao pedal 12 horas por dia para reganhar a seriedade perdida.
Por estas e por outras é que os chineses já nos dão berros quando queremos mudar regras de compras efectuadas há pouco tempo. Tenham cuidado, meninos! Olhem que até os aldrúbias só mentem uma vez….

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Burros e a recebermos o que nos dão…

O PRIMEIRO-MINISTRO belga, di Rupio, é um amor! Foi denunciar aos europeus que a Bélgica está cheia de portugueses a cobrarem 2,04 euros por cada hora de trabalho, o que concorreria deslealmente com os salários que na Bélgica se pagam aos trabalhadores. Assim, não haveria maneira de competir com gente a cobrar tão pouco como os portugueses a trabalharem na Bélgica
O chefe do Governo belga ignora que os Portugueses ganham, à força do seu trabalho e na sua Pátria e em média, aquilo de que ele se queixa dos desamparados imigrantes portugueses aceitarem. É questão de fazer contas: 2,04 euros à hora, faz 16,32 euros por dia de 8 horas de trabalho.16,32 euros vezes 22 dias úteis de trabalho (se for só assim) dá o total de cerca de 400 euros que cada português ganha enquanto mostra o seu agradecimento por não ser despedido pelo Governo em vergonhosas negociatas semelhantes àquela que ditou o fecho dos estaleiros de Viana.
Não pode ir a Bruxelas um “especialista” deste prestigiado Governo, “boy” recém-admitido, explicar aos belgas por que razão os americanos comparam os portugueses aos burros de Miranda?! E, já agora, poderia o ilustre assessor dar a volta por Washington para agradecer aos ianques escreverem sobre o povo português como se fosse uma nação de burros, destacando-os em um quinto, ao alto, da primeira página da sua edição internacional?

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Eu seja ceguinho!



NUNCA houve nada escrito por mim que fosse tão lido como uma prosa que na net me atribuem e que eu nunca escrevi. É verdade! Não é que me preocupe, pois aumenta-me a popularidade (nem imaginam!) e hoje, com os servidores e motores de busca é não só fácil provar que se não é autor daquilo que querem à força dizer erroneamente que é nosso, como não é difícil chegar-se à verdadeira autoria da vilania.
De resto, os meus textos são facilmente identificáveis: se são verdadeiros, passaram pelo “Sorumbático” e pelo “Mosca Varejeira” e receberam o imprimatur do meu querido amigo Carlos Medina Ribeiro. São falsos, nunca nenhum de nós os viu, ficamos de cara à banda e rimo-nos muito no fim, o que se há-de fazer!? Pois se até inventam comunicados falsos ao ministro da saúde, porque não hão-de inventar crónicas mentirosas para alguns de nós?! Não me digam que esta última também veio da Polónia ou da Hungria…
Entre 2008 e 2012, em Espanha, foram despedidos 10 mil jornalistas e 70 órgãos de comunicação social desapareceram. Só no ano passado, mais 4800 jornalistas foram dar banho ao cão. A Federação dos Jornalistas de Espanha acredita estar ainda a tempo de “proteger os direitos dos jornalistas e dignificar a profissão”. Recusa-se a aceitar que está atrasada.
Entretanto, não é natural que, com tanta gente a perder o emprego, também nos “media” e  produtoras de rádio e TV portuguesas, se intensifique esta estranha produção de textos de geração espontânea , uns que dizem que são meus, outros que juram a pés juntos serem da Clara Ferreira Alves, ou do Nicolau Santos. Mas não são. Nem de uns, nem de outros. Basta conhecer as respectivas prosas para se saber. Eu por mim, juro! Eu seja ceguinho! E muito obrigado pela preferência…
In Sorumbático, 19 Abril, 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Quem será mais louco?

O SENADOR McCain, antigo candidato à presidência dos Estados Unidos, chamou psicopata ao actual líder da Coreia do Norte e disse que já o pai era doido e o avô era maluco.
Não sei se o senador se baseava em algum relatório genético e em regras de hereditariedade para insultar tês gerações de grandes líderes e acabar na ofensa ao Kim Il Sung. Mas que queria ofender um dirigente político de uma nação soberana e, pelo caminho, vilipendiar todo um povo patriótico, não restam dúvidas a ninguém.
Os americanos parecem não ter os cinco alqueires bem medidos. Assim se afigura, ao pensarmos que diante dum jovem dirigente, inexperiente e instável, dependendo das velhas hierarquias, se comportam deste modo e é com este folclore ofensivo que acompanham provocadoras manobras militares. E nestas não incluo os exercícios militares junto à fronteira do Norte, envolvendo milhares de soldados, grandes baterias de artilharia pesada, bombardeiros “stealth” e dezenas de navios de guerra. 
De cada vez que vou a Seoul, e fico no Hilton, a sala de pequenos almoços do hotel parece a messe dos oficiais americanos, todos de camuflado e com ar de quem já está atrasado para chegar à guerra. Não fora a discreta presença dos russos e japoneses, a autoridade dos chineses e o bom senso de Seoul, daquele clima paranóico já tinha saído asneira da grossa a norte do Paralelo 38.
Um presidente americano inteligente, racional e equilibrado entenderia que se está no momento exacto de suspender estes jogos de guerra, inequivocamente. É verdade que ao longo de gerações e após a brutal guerra da Coreia, que todo aquele povo sofreu, a guerra psicológica dos americanos, a qual nunca abrandou, pode bem criar um caso de demência colectiva. Mas a comportarem-se assim, contra uma nação que dispõe de armamento nuclear e mísseis capazes de transportar ogivas, sob a direcção política que se conhece, não sei quem será mais louco. Se PyongYang, se Washington
In Sorumbático, 17 Abril2013
 

domingo, 14 de abril de 2013

Confiança garantida

TENHO um amigo que vive no prédio dum importante ministro. Todos os dias, pelas 7 da manhã, o meu amigo quando sai para passear o cão encontra no elevador a mulher do ministro, que vai correr. Todos eles figuras públicas e conhecidos de longa data, cumprimentam-se amistosamente. Mas o meu amigo não resiste a contar-me o que a mulher do ministro responde à sua pergunta de “então, vocês estão bem?”
Com um sorriso bem disposto e com a voz firme de quem sabe do que está a falar, a senhora responde invariavelmente: 
“Então não havíamos de estar! Claro que estamos bem, a afundar-nos alegremente”! O meu amigo distrai-se com o cão e a senhora põe os auscultadores antes de começar o seu “jogging”.
Mas quando o meu amigo regressa para tomar banho, ou almoça comigo, não resiste a rebobinar e a pensar que se um ministro essencial como aquele acha que o país se está a afundar todos os dias, é porque isso é mesmo verdade.
Quando o meu amigo me contou a história pela primeira vez, num tom de grande segredo, eu pensei que a senhora era uma irresponsável e que o marido não seria melhor. Mas agora, depois de ler que Christine Lagarde, directora do FMI, disse que até ao fim do ano haverá bancos que vão fechar em Portugal, penso que estão todos bem uns para os outros e que nós é que estamos entregues aos bichos, com gente desta a dar-nos confiança garantida na competência de quem nos governa e no futuro que nos vai acolher. 
In Sorumbático, 15 de Abril2013

sexta-feira, 12 de abril de 2013

E se Obama fosse antes ao cinema!?

QUANDO li a frase de Obama, achei aquilo que ele disse um exagero. Mas como gosto muito da senhora, fiquei todo contente, e elogiei o discurso presidencial tanto como aquele que lhe escreveram para ele dizer no Egipto há uns anos, que toda a gente gostou muito, eu incluído. 
Demorei algum tempo a perceber que quando Obama disse, desta vez, que “O MUNDO PERDEU UMA DAS GRANDES ADVOGADAS DA LIBERDADE”, não se estava a referir à minha querida Sarita Montiel, mas a Margareth Thatcher, morta no mesmo dia, deixando entre os órfãos, pelos vistos, o “Tory” Blair e o Barack Obama, a par do Gorbatchev e do Lech Walesa.
Tenho amigos em Londres que sofreram com a morte da rainha do Alzheimer, porque são conservadores e admiram aquela que foi a primeira mulher a chefiar um governo no Reino Unido, o que eu respeito. Mas também tenho amigos que foram a Brixton, às festas de alegria com que se comemorou na Grã-Bretanha o desaparecimento da “Bruxa”. Gosto da sinceridade e recusa de hipocrisia, também como foram as festas dos mineiros do Norte, a quem a baronesa tanto prejudicou, como por certo na Argentina se terá festejado o desaparecimento da madrasta das Malvinas. 
Eu, por mim, marimbo-me na baronesa, um Gaspar de saias e com substância que desgraçou milhões na Grã Bretanha e lançou a Europa nesta crise do capitalismo em que ainda estrebuchamos e recolho-me ao meu luto pela Sarita, a rainha do “couplé”, a madrilena de olhos ardentes e voz quente que nos anos 50-60 provocava erecções aos jovens da minha geração a cantar “besame, besame mucho”.
Sarita fez mais de 50 filmes. Tornou-se mundialmente famosa com Vera Cruz e filmou com Gary Cooper, Burt Lancaster e outras grandes vedetas. Estreara-se em 1944,em “Te quiero para mi” e até 1974 rodou meia centena de filmes, ainda que sempre entregue à música e sempre inebriante com as suas canções sensuais, como em “Violetera” e muitas outras películas que em Portugal provocavam enchentes durante meses, em grandes salas de cinema como “Eden”, “Condes” e “Odeon”, hoje todas elas desaparecidas.
Casada quatro vezes, senhora de grande beleza voluptuosa e não escondendo uma grande sensualidade, Sara Montiel foi uma advogada da liberdade maior que a baronesa que foi amiga do ditador Pinochet. 
O ministro espanhol da Cultura,José Ignacio Wert,disse que Sarita era “um ícone do cinema espanhol e ibero-americano, capaz de encher o grande écran como ninguém”. Estou plenamente de acordo, e ainda acho que Sarita não encheu as ruas de Londres de sem-abrigo nem prejudicou ninguém, como a Thatcher. Talvez o ministro Wert possa mandar dois DVDs ao Obama… um sobre uma e outro acerca da outra… 
In Sorumbático, 12 de Abril 2013

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Espanha sem trunfos e rei fora do baralho

A POPULARIDADE do rei de Espanha, Juan Carlos, está em queda livre, principalmente junto dos jovens, em consequência de diversos escândalos, em particular daquele que envolve corrupção e que faz estremecer as fundações da monarquia espanhola, ainda que o príncipe Felipe pareça estar a ser poupado - revelou uma sondagem realizada nos últimos dias e publicada no passado domingo.
A sondagem, no entanto, foi realizada antes dum juiz de instrução ter indiciado a infanta Cristina, segunda filha do rei, no caso de corrupção que tem como principal protagonista o seu marido, Iñaki Urdangarin. 53 % dos interrogados na sondagem manifestaram-se contra o modo como o rei exerce as suas funções e apenas 42 % estão a favor. O príncipe das Astúrias, Felipe, de 45 anos de idade, recebeu pareceres favoráveis de 61 % dos inquiridos. 
A queda de popularidade do rei é particularmente acentuada na faixa etária dos mais jovens, dos 18 aos 34 anos, cujos votos desfavoráveis são 41% mais numerosos do que os favoráveis. Designado por Franco como seu herdeiro político, Juan Carlos foi entronizado dois dias depois da morte do ditador e conduziu, com sucesso, a transição política pacífica da Espanha da ditadura para a democracia. Esta página da História parece ser ignorada pelos eleitores mais jovens.
A imagem do rei Juan Carlos começou a degradar-se aceleradamente na primavera de 2012,após o monarca ter participado numa caçada aos elefantes no Botswana, que fez com que ele tivesse de apresentar um pedido público de desculpas à nação depois de chocar a Espanha, minada pela grave crise económica e com uma percentagem de desemprego da ordem dos 26%. 
O inquérito judicial que visa Iñaki Urdangarin, marido da princesa Cristina suspeito de ter desviado milhões de euros de dinheiro público e a indiciação da princesa nesse mesmo processo, mergulhou a monarquia espanhola numa crise sem precedentes e fez crescer rumores sobre a possibilidade do rei abdicar em favor de seu filho. 
Esta sondagem, conhecida no início desta semana, revela aquilo que os espanhóis pensam e foi realizada no curso do mês de Março, auscultando as opiniões de 2400 inquiridos que permitiram concluir pelo desprezo geral dos espanhóis pelo conjunto das suas instituições. Aos escândalos da família real, juntam-se diferentes casos de corrupção que desacreditam a generalidade do mundo político.
91 % dos inquiridos desaprovam a actividade dos partidos políticos e apenas 7% aprovam a forma dos partidos assumirem o seu papel na vida nacional. Somente 19% se manifestou favorável ao governo do PP liderado por Mariano Rajoy. Uma sondagem paralela a esta publicada pelo diário “El País” mostra que os dois grandes partidos da Espanha, o Partido Popular (P.P.) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), juntos, não atingem um total de 50% da intenção de votos. O PP, vencedor das eleições de Novembro de 2011 com uma maioria esmagadora, receberia apenas 24,5% dos votos e os socialistas 23%, se as eleições fossem agora. 
Com a Espanha a destrunfar e o rei fora do baralho, o futuro depois da crise será ainda mais difícil para todos os povos ibéricos, quer sejam hoje parte integrante de Castela, ou simples vizinhos, como nós. 
(In Sorumbático, 10 Abril 2013)